A hora de Vítor Constâncio!
Ao ver o Governador do Banco de Portugal sair de Belém, pensei se não estará o ex-Secretário-Geral do Partido Socialista – em tempos afastado por Sampaio! – a caminho de exercer o lugar primeiro da hierarquia do Estado na nossa querida República Portuguesa!
Constâncio teve um trajecto impecável enquanto ex-Secretário-Geral. Ocupando posições chave termos da sua trajectória profissional, aparece hoje como um homem altamente respeitado, senhor de um perfil de imparcialidade e independência face aos partidos políticos e às correntes de opinião na sociedade portuguesa.
Homem de cultura e princípios humanistas, homem para quem a ideia-chave serão sempre os cidadãos, as portuguesas e os portugueses, e não uma abstracta ideia de competitividade, ao estilo neo-liberal, que tem trazido regressão a todos os níveis ao nosso país.
Constâncio pode bem ser a “surpresa” da esquerda de que Sócrates falou.
Em Janeiro de 2006, após umas autárquicas equilibradas, em que nem o PS esmaga nem será esmagado; com o país em convulsão social causada por um PCP ávido de protagonismo, após a perda inelutável de mais algumas Câmaras e de mais alguns votos; com uma direita mesquinha sonhando com um Cavaco Presidente, passaporte para uma absurda dissolução da Assembleia; - em Janeiro de 2006 – dizia eu – os Portugueses vão querer reforçar a maioria absoluta que deram a Sócrates e vão querer dizer bem alto: queremos em Belém quem soube ao longo da sua vida servir o país e o seu partido, sem espalhafatos, sem inimizades internas e externas, com credibilidade internacional e que dê ao Governo socialista todas as garantias de colaboração vigilante e participada. Esse homem é Vítor Constâncio!
Mas atenção! Como ontem bem avisava Mário Soares, o diálogo à esquerda é urgente, porque depois das autárquicas, a contar com uma 2.ª volta nas Presidenciais… pode ser tarde demais… Cavaco pode ganhar na primeira volta! Esse é o risco da esquerda e para o país. E um risco para quem acredita nos valores progressistas e republicanos da esquerda democrática!
P.S: O que aqui vai dito em nada, mesmo nada, desmerece a hipótese da candidatura de Manuel Alegre, camarada que entusiasticamente apoiei em Agosto passado. Trata-se apenas de fazer uma leitura da realidade de acordo com o perfil do forte pseudo-adversário da Direita, com o momento político e a crise orçamental que se vive e com o facto de a Direcção do PS, democrática e legitimamente eleita, ter um palavra decisiva na escolha do candidato da esquerda. E não tenho a certeza de que queiram apoiar quem esteve contra eles em 2004….
André Pereira