Bolonha, ECTS, Suplemento ao Diploma: palavras-chave para uma reforma do Ensino Superior
O governo “dos pequenos passos” vai fazendo o seu caminho. Agora o Ensino Superior; área em que a reforma e o debate têm estado inquinados desde há cerca de 15 anos pela questão das propinas e onde convivem, lado a lado, a inovação, a excelência e a competitividade, com a sonolência, a permissividade e um certo fascismo social típicos de uma sociedade em transição.
Uma Europa com voz no Mundo, portadora de um sentido e apostada em continuar a ser vista como referência no plano internacional, carece de uma Academia plural, dinâmica, e multilingue.
Bolonha – símbolo da gloriosa tradição universitária europeia – é agora uma oportunidade para rever conceitos, metodologias e estratégias de ensino.
A pergunta a colocar a um Professor não deverá mais ser: “Qual o programa da cadeira?”, mas sim “como vão os seus alunos alcançar essas competências?”. Aos alunos não bastará mais dizer “Fiz a cadeira!”; é necessário que interiorizem que “Aquela cadeira permitir-me-á aprender a resolver aqueles problemas, adquiri mais alguma diferenciação e outras capacidades”.
Os Estudantes podem finalmente ver reconhecido o direito à livre circulação de pessoas no espaço europeu do ensino universitário, realizando cursos de verão num país, semestres noutro, 1.º ciclo no Norte, 2.º ciclo no Sul. Assim se faz Europa! Os Estudantes devem ainda exigir a aplicação do “Suplemento ao Diploma”, em que sejam devidamente reconhecidas as actividades extra-curriculares e profissionais que exerçam.
Os Professores devem continuar a exigir apoio institucional e financeiro para poderem participar no esforço de internacionalização e divulgação da cultura científica portuguesa. Por exemplo, instituindo-se gabinetes de tradução (ou apoios financeiros à tradução), departamentos administrativos especializados nas candidaturas aos programas europeus de investigação científica. Aos Professores exige-se um forte empenho nas actividades pedagógicas com os alunos nos seus trabalhos específicos. E simultaneamente um esforço de participação na construção da ciência europeia, marcando posição nas publicações internacionais e divulgando o seu saber nos ‘fora’ mundiais.
Algumas profissões exigem que o aluno complete o 2.º ciclo (“mestrado”). É o caso – na minha opinião - das profissões forenses (Magistrados e Advogados, mas não Solicitadores ou Funcionários judiciais). Esta ideia, porém, não se poderá alargar indefinidamente a todas as Engenharias ou a quaisquer outras profissões. Isso seria uma “burla de etiquetas”: seria manter tudo na mesma, apenas mudando o nome. Onde agora se exige o canudo de “Licenciado”, passar-se-ia a exigir o diploma de “Mestre”.
E sobretudo não acredito que os portugueses precisem de mais anos de formação que os congéneres europeus para adquirir as mesmas competências. Julgo que temos as mesmas capacidades intelectuais que os outros. Apenas se exige que se aprenda mais em menos tempo!
O problema das propinas continua aí. E agora, no 2.º ciclo, com força redobrada! Apenas gostaria de chamar a atenção para uma possível iniquidade: a proposta do Ministro Mariano Gago pode tornar mais barato os cursos de Medicina e Arquitectura que o de Matemática ou História, por exemplo. O que não deixaria de ser estranho…!
E se tivermos um 2.º ciclo muito caro em Portugal? Bom, as crianças que comecem a assistir ao “Canal Panda” para aprender espanhol: em Salamanca será certamente muito mais barato! A propos, ontem já coloquei TV Cabo para minha filha ir treinando a língua de Cervantes alguns minutos por dia!
André Pereira