CDS, Freitas e outras histórias
Caro Carlos Esperança,
Você não só assina com o seu nome como mostra a cara!
É bom que se saiba que na minha opinião, enquanto redactor e co-fundador deste blog, a franqueza e a afirmação de ideias sem neblinas nem tibiezas é factor de construção de uma sociedade mais livre e mais democrática.
É pois muito bom que nos habituemos, na sociedade portuguesa, a "inscrever" para usar a terminologia de José Gil. E isso passa por assinarmos de forma reconhecível os nossos comentários…
Também eu aguardo que sejam reveladas informações que demonstrem alguma incorrecção ou falácia histórica no artigo do Carlos Esperança.
Quanto ao fundo: tenho para mim que o CDS/PP se depara nestas semanas com uma situação de anti-climax tremendo e esta ‘birra’ é disso sintoma. Depois de alcançar o poder de forma inesperada em 2002, não conseguiram perceber que um Partido exige coerência e continuidade ideológica e uma estrutura de bases e de implantação social.
Depois de Monteiro ter esvaziado o Partido dos seus valores fundantes (o anti-socialismo e a democracia cristã) e dos vultos sociais e intelectuais que os exprimiam, Portas esvaziou o Partido de bases e implantação social. Restava, naquele Partido, apenas isso mesmo o PP (Paulo Portas) com uma velha imagem de CDS. A 20 de Fevereiro o sonho do poder esfumou-se e Portas percebeu isso como ninguém, pelo que partiu. Permitam-me que cite Santana Lopes, quando este naquela mesma noite afirmou que ficara provado que à Direita não há alternativa ao PSD.
E isso é verdade: aquele poderia ter sido o grande dia de Portas. O dia em que a Direita se poderia ter cindido em duas, como acontece em França, de forma mais plural em Itália e de forma muito especial na Alemanha. Mas tal não aconteceu: o CDS não tem uma linha ideológica estável, não tem quadros e não tem implantação social. À direita parece que só há mesmo lugar para o PSD.
Freitas do Amaral escreveu um dia que o maior erro político que cometeu como Presidente do CDS foi não aceitar ir para o 1.º Governo Provisório. Com isso ficou conotado com o lado “não democrático” ou “salazarista”.
Eu diria coisa diferente. A grande arte de Sá Carneiro foi ter aceite as fichas dos pides do nosso país e com isso, em poucas semanas, ter criado aquele que é ainda hoje o maior Partido português. Tivesse Freitas aceitado esses “frutos do pecado” e teríamos hoje, quiçá, uma Direita diferente.
Auguro, pois, tempos muito difíceis para o CDS. Um Partido que passou por mutações tão profundas e por cores tão diversas revela falta de espinha dorsal e coerência. Desde a democracia-cristã de Freitas, Lucas Pires e Adriano Moreira ao nacionalismo primário de Monteiro, ao populismo e culto da personalidade de Portas, tudo isto perdendo ano após ano implantação autárquica, motivação das bases e alianças privilegiadas com instituições (maxime a Igreja) revela-se hoje um projecto sem rumo e sem consistência. Poderá ir sobrevivendo na medida em que o PSD se mantenha dividido e sem líder credível. Mas se este aparecer, todo o “povo de Direita”, como é típico em Portugal, deixar-se-à “arrebanhar” no manto de um grande PSD.
Tem pois razão Carlos Esperança ao prever um esvaziamento do CDS. Os simpáticos ‘jovens’ que o dominam carecem de cultura ideológica, conhecimentos culturais e implantação social para poder refundar um verdadeiro Partido à direita do PSD. Resta-lhes uma lenta agonia em que votarão, eventualmente, alguns “contra o sistema” ou outros simpatizantes do símbolo e da bandeira: enquanto estes não voltarem a mudar!