É verdade. Os que ainda tinham ilusões de que a Igreja católica iria usar a sua grande influência em prol da democracia política, social e económica no terceiro mundo; que iria reconhecer um estatuto às mulheres condizente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos; uma abertura da Igreja à sociedade que aspira por valores e práticas progressistas no plano cultural e social, todos esses tiveram uma grande desilusão ao saber a verdade negra que se escondia sob o fumo branco na cidade do Vaticano na tarde de ontem.
Parece que resta agora à Igreja católica perder mais e mais seguidores na América Latina, ocupar um espaço cada vez mais radical e, naturalmente, mais marginal na Europa e nos Estados Unidos. Sim, o católico democrata de Bóston, John Karry, não se identifica com os valores de Ratzinger. Sim, o Presidente do Brasil e tantos dos seus companheiros e camaradas de Partido não acompanham o pensamento deste Papa. Sim, muitos católicos progressistas europeus sempre viram naquele Cardeal a expressão das forças reaccionárias no Vaticano que dominaram o papado de João Paulo II.
(Novo) Papa?! Sim, o ideólogo do carinhoso e carismático Papa da Polónia era desde há muito o bávaro Ratzinger. A escalada da Opus Dei no Vaticano; a (no entender de muitos) deturpação do Concílio Vaticano II; um pensamento obtuso e cerrado que cativa poucos e cada vez menos tinham uma assinatura. A que agora dá pelo nome de Bento XVI.
Estaremos atentos agora à diplomacia do Vaticano, às aspirações de certos grupos no domínio económico e às campanhas ideológicas retrógradas no domínio da Bioética.
André Pereira