Os resultados desta noite devem ser analisados com frieza e sentido de rigor.
Os portugueses falaram e devemos ouvir o que eles nos disseram.
1) O PS alcança o pior resultado desde os anos 80, com a cisão causada pelo PRD.
Trata-se de um resultado muito mau, que se traduz na perda de quase metade da sua percentagem de votos face às eleições europeias de 2004 , concretamente de 44,5% para 26,5%.
Em termos de votos, a queda é muito grande, visto que o PS perde mais de meio milhão de votos: de 1516001 em 2004, passa para 945362, no dia de hoje.
2) A abstenção sendo embora muito alta (63%), não é significativamente superior à de 2004 (61,4%), sobretudo se considerarmos que o número de eleitores fantasma aumenta de ano para ano.
3) Os grandes vencedores são os seguintes:
A Direita no seu conjunto sobe cerca de 8%:
- O PSD consegue sozinho ter tantos votos quanto a coligação PSD/CDS tinha tido há 5 anos 1132769 (33,27%); hoje: 1127128 (31.69%)
e o CDS consegue um resultado muito expressivo, com 297823 (8.37%)
A Extrema-esquerda
- O Bloco de Esquerda, que passa de 167313 (4,91%) para 381791 (10.73%)
- A CDU sobre de 309401 (9,09%) para 379290 (10.66%).
Os votos brancos e nulos:
com uma espectacular subida de 87442 (2,57%)+ 47224 (1,39%) para 164831 (4.63%) + que acescem os votos nulos de 71136 (2%), ou seja: cerca de 235.000 votos, ou quase 7% dos votos...!
Feita a análise objectiva e fria dos números podemos concluir que:
- O PSD consegue manter um resultado condizente com o seu eleitorado base, sendo o número de votantes hoje claramente inferior ao resultado que Santana Lopes obteve em 2005: 1653425 votos!
Teve hoje, repito, 1127128 votos... Não é razão para cantar de galo!
O PSD tem ainda muito eleitorado potencial para conquistar.
O PS sofreu uma derrota grave, ficando abaixo do 1 milhão de votos, tendo perdido para todos, designadamente para os votos brancos e nulos, a forma suprema de protesto contra as propostas políticas apresentadas.
Vital Moreira não é o principal responsável por esta derrota. Hoje os portugueses puniram a arrogância e a sobraceira de algum PS, de alguns Ministros e alguma presunção de José Sócrates.
É tempo, portanto, de acabar toda e qualquer forma de nepotismo, aristocracia ou sobranceria dentro do PS. O partido dos "nobres do PS" - como dizia algum comentador - tem pois que ir de férias e não voltar. O PS tem que ser o verdadeiro Partido do povo de esquerda, e do povo que quer ter voz dentro do partido, não apenas dos qua animam os comícios ou enchem camionetas para a TV filmar. Não se pode admitir decisões tomadas em "petit comité", que são impostas de cima para baixo. Não se pode continuar com programas de Governo e medidas de Ministros que nunca foram debatidas nos órgãos próprios.
O Governo da arrogância e da sobranceria deve pedir a demissão e não se apresentar a eleições em Setembro. O Primeiro-Ministro tem que se apresentar com uma equipa renovada e com ideias frescas.
José Sócrates tem que mostrar agora a raça dos grandes políticos e mostrar que, tal como os gatos, tem mais vidas. O tempo de "one man show" e do omnipotente e ominisciente Primeiro-Ministro acabou.
Os portugueses têm que ter consciência que do outro lado está Ferreira Leite e Paulo Portas. Sim, Ferreira Leite e Paulo Portas... os mesmos de 2002-2005...