quarta-feira, maio 18, 2005

A hora de Vítor Constâncio!

A hora de Vítor Constâncio!

Ao ver o Governador do Banco de Portugal sair de Belém, pensei se não estará o ex-Secretário-Geral do Partido Socialista – em tempos afastado por Sampaio! – a caminho de exercer o lugar primeiro da hierarquia do Estado na nossa querida República Portuguesa!

Constâncio teve um trajecto impecável enquanto ex-Secretário-Geral. Ocupando posições chave termos da sua trajectória profissional, aparece hoje como um homem altamente respeitado, senhor de um perfil de imparcialidade e independência face aos partidos políticos e às correntes de opinião na sociedade portuguesa.

Homem de cultura e princípios humanistas, homem para quem a ideia-chave serão sempre os cidadãos, as portuguesas e os portugueses, e não uma abstracta ideia de competitividade, ao estilo neo-liberal, que tem trazido regressão a todos os níveis ao nosso país.

Constâncio pode bem ser a “surpresa” da esquerda de que Sócrates falou.

Em Janeiro de 2006, após umas autárquicas equilibradas, em que nem o PS esmaga nem será esmagado; com o país em convulsão social causada por um PCP ávido de protagonismo, após a perda inelutável de mais algumas Câmaras e de mais alguns votos; com uma direita mesquinha sonhando com um Cavaco Presidente, passaporte para uma absurda dissolução da Assembleia; - em Janeiro de 2006 – dizia eu – os Portugueses vão querer reforçar a maioria absoluta que deram a Sócrates e vão querer dizer bem alto: queremos em Belém quem soube ao longo da sua vida servir o país e o seu partido, sem espalhafatos, sem inimizades internas e externas, com credibilidade internacional e que dê ao Governo socialista todas as garantias de colaboração vigilante e participada. Esse homem é Vítor Constâncio!

Mas atenção! Como ontem bem avisava Mário Soares, o diálogo à esquerda é urgente, porque depois das autárquicas, a contar com uma 2.ª volta nas Presidenciais… pode ser tarde demais… Cavaco pode ganhar na primeira volta! Esse é o risco da esquerda e para o país. E um risco para quem acredita nos valores progressistas e republicanos da esquerda democrática!


P.S: O que aqui vai dito em nada, mesmo nada, desmerece a hipótese da candidatura de Manuel Alegre, camarada que entusiasticamente apoiei em Agosto passado. Trata-se apenas de fazer uma leitura da realidade de acordo com o perfil do forte pseudo-adversário da Direita, com o momento político e a crise orçamental que se vive e com o facto de a Direcção do PS, democrática e legitimamente eleita, ter um palavra decisiva na escolha do candidato da esquerda. E não tenho a certeza de que queiram apoiar quem esteve contra eles em 2004….

André Pereira

sexta-feira, maio 13, 2005

Bolonha, ECTS, Suplemento ao Diploma: palavras-chave para uma reforma do Ensino Superior

Bolonha, ECTS, Suplemento ao Diploma: palavras-chave para uma reforma do Ensino Superior

O governo “dos pequenos passos” vai fazendo o seu caminho. Agora o Ensino Superior; área em que a reforma e o debate têm estado inquinados desde há cerca de 15 anos pela questão das propinas e onde convivem, lado a lado, a inovação, a excelência e a competitividade, com a sonolência, a permissividade e um certo fascismo social típicos de uma sociedade em transição.

Uma Europa com voz no Mundo, portadora de um sentido e apostada em continuar a ser vista como referência no plano internacional, carece de uma Academia plural, dinâmica, e multilingue.

Bolonha – símbolo da gloriosa tradição universitária europeia – é agora uma oportunidade para rever conceitos, metodologias e estratégias de ensino.

A pergunta a colocar a um Professor não deverá mais ser: “Qual o programa da cadeira?”, mas sim “como vão os seus alunos alcançar essas competências?”. Aos alunos não bastará mais dizer “Fiz a cadeira!”; é necessário que interiorizem que “Aquela cadeira permitir-me-á aprender a resolver aqueles problemas, adquiri mais alguma diferenciação e outras capacidades”.

Os Estudantes podem finalmente ver reconhecido o direito à livre circulação de pessoas no espaço europeu do ensino universitário, realizando cursos de verão num país, semestres noutro, 1.º ciclo no Norte, 2.º ciclo no Sul. Assim se faz Europa! Os Estudantes devem ainda exigir a aplicação do “Suplemento ao Diploma”, em que sejam devidamente reconhecidas as actividades extra-curriculares e profissionais que exerçam.

Os Professores devem continuar a exigir apoio institucional e financeiro para poderem participar no esforço de internacionalização e divulgação da cultura científica portuguesa. Por exemplo, instituindo-se gabinetes de tradução (ou apoios financeiros à tradução), departamentos administrativos especializados nas candidaturas aos programas europeus de investigação científica. Aos Professores exige-se um forte empenho nas actividades pedagógicas com os alunos nos seus trabalhos específicos. E simultaneamente um esforço de participação na construção da ciência europeia, marcando posição nas publicações internacionais e divulgando o seu saber nos ‘fora’ mundiais.

Algumas profissões exigem que o aluno complete o 2.º ciclo (“mestrado”). É o caso – na minha opinião - das profissões forenses (Magistrados e Advogados, mas não Solicitadores ou Funcionários judiciais). Esta ideia, porém, não se poderá alargar indefinidamente a todas as Engenharias ou a quaisquer outras profissões. Isso seria uma “burla de etiquetas”: seria manter tudo na mesma, apenas mudando o nome. Onde agora se exige o canudo de “Licenciado”, passar-se-ia a exigir o diploma de “Mestre”.

E sobretudo não acredito que os portugueses precisem de mais anos de formação que os congéneres europeus para adquirir as mesmas competências. Julgo que temos as mesmas capacidades intelectuais que os outros. Apenas se exige que se aprenda mais em menos tempo!

O problema das propinas continua aí. E agora, no 2.º ciclo, com força redobrada! Apenas gostaria de chamar a atenção para uma possível iniquidade: a proposta do Ministro Mariano Gago pode tornar mais barato os cursos de Medicina e Arquitectura que o de Matemática ou História, por exemplo. O que não deixaria de ser estranho…!

E se tivermos um 2.º ciclo muito caro em Portugal? Bom, as crianças que comecem a assistir ao “Canal Panda” para aprender espanhol: em Salamanca será certamente muito mais barato! A propos, ontem já coloquei TV Cabo para minha filha ir treinando a língua de Cervantes alguns minutos por dia!

André Pereira

quinta-feira, maio 12, 2005

Call me Barroso, José Manuel Barroso!

Call me Barroso, José Manuel Barroso!

J.M.D.Barroso não tem tido vida fácil em Bruxelas. Escolhido em ‘petit comité’ dominado pelo Partido Popular, o primeiro-ministro que, à frente de uma coligação de direita, conseguiu a proeza de ter 1/3 dos votos expressos no seu próprio país, recebeu como prémio uma ‘Comissão de Serviço’ por 5 anos em Bruxelas, com a garantia de um regresso em ombros à sua Pátria natal – qual filho pródigo!
Mas afinal havia mais um qualquer pequeno adereço: o seu velho amigo, um bilionário grego com quem lamentavelmente não passava férias há já muitos e muitos anos, finalmente conseguiu convencer o antigo colega José Manuel para uma pausa no Mediterrâneo, naturalmente acompanhado da Senhora sua esposa e seus simpáticos filhos, antes da cansativa e cinzenta ‘estadia’ em Bruxelas.

Estes assuntos da ‘vida privada’ dos ‘grandes líderes’ são agora motivo de interesse não só das revistas cor-de-rosa, mas também dos chamados jornais de referência e mesmo – para grande espanto de quem vive numa democracia em parte dominada pelos caciques corruptos ao nível local e nacional – dos parlamentares europeus!

E não é que querem que o Senhor Presidente da Comissão europeia explique o “como e o porquê” das suas férias?! Um Parlamento a fiscalizar os titulares de cargos executivos? Que estranhos hábitos democráticos têm os ‘europeus’ além-fronteiras. E ameaçam, inclusivamente, com uma moção de censura?!
Vejam: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1223067

Barroso, José Manuel Barroso tem revelado grandes dificuldades.
Logo na “nomeação”: ‘alguns’ sabem porque se tornou público que ele não era a primeira escolha.
Seguindo-se a constituição da equipa de comissários: o Sr. Butiglione, um homem de convicções morais profundas que não estão de acordo com o politicamente correcto ‑ mais um caso em que a vida privada dos “executivos” foi devassada!
Na apresentação de um plano de acção: os media não o deixam fazer passar a mensagem!
Na gestão das suas velhas amizades: um homem como Barroso, que fala inglês e francês, frequentou cursos na Suíça, naturalmente que é velho ‘compincha’ de um negociante grego e obviamente como cavalheiro requintado e habituado a bons tratos passa férias num iate em alto-mar.

E se bem repararmos em todos estes dados, detectamos a razão desta estratégia concertada dos media: temos um português, um italiano e um grego.
A Europa do Norte, ou, como dizem alguns renomados cronistas da praça, alguns media apoiados nas opiniões públicas de França e Alemanha (demasiado conservadoras no seu apreço pelo Estado Social e que não vêem com bons olhos um “liberal reformista” que poderia levar a Europa a caminho do progresso – como aliás começou a fazer em Portugal!) – são estes – os nórdicos, anti-liberais e anti-cristãos – os verdadeiros responsáveis pelo tremendo ‘complot’ contra o nosso “compatriota”, que levou e está a levar o nome de Portugal mais alto e mais longe!

Ou será que esta missão é demasiado elevada para Barroso, José Manuel Barroso?

André Pereira

terça-feira, maio 10, 2005

Estónia: um pequeno país com um grande futuro

Estónia: um pequeno país com um grande futuro

Regressado de uma semana de trabalho na antiga Universidade de Tartu (criada em 1632), onde leccionei ao abrigo do programa de Mobilidade de Docentes ERASMUS, venho partilhar algumas impressões desta viagem.

A Estónia, ex-República soviética, hoje Estado-membro da União Europeia, é um pequeno país com menos de 1,5 milhões de habitantes e com um PIB per capita um pouco inferior ao português.

A passagem da União Soviética à União Europeia deu-se em menos de 15 anos, nos quais se produziu uma alteração radical na sua situação política económica e social.

Em termos políticos, o povo estónio – de etnia e língua próximas das dos finlandeses e bastante distantes das dos russos – recuperou, em 1991, a independência perdida na 2.a Guerra mundial.

O período soviético é pois encarado pelos locais como “ocupação soviética”. E ainda hoje não estão curadas as chagas das décadas de estalinismo e pós-estalinismo, de repressão, violência e privação da liberdade. As relações diplomáticas entre Tallinn e Moscovo são ainda tensas e esta semana o Presidente da Estónia recusou-se a participar nas celebrações da vitória da União Soviética (Rússia?) sobre a Alemanha Nazi, em virtude de Putin ter vindo a produzir algumas declarações dúbias sobre a História dos países bálticos.

Com uma democracia parlamentar consolidada, com um aparelho judicial culto e independente e uma administração pública moderna e sem corrupção, o Estado estónio conseguiu criar condições adequadas para o investimento, a inovação e o progresso do seu país.

A economia é pujante e saudável, assente na iniciativa privada, no investimento externo e interno, num consumo crescente e com uma capacidade produtiva com óptimas condições estruturais.

Em termos agrícolas, encontramos terrenos férteis e extensos, florestas cuidadas e produtivas. A indústria goza de bons acessos ao mar, ferroviários e rodoviários. De energia a preços acessíveis e uma carga fiscal diminuta. Os serviços contam com uma população muito educada, com forte dinâmica empresarial e espírito de trabalho.

Alguns factos merecem a nossa atenção e reflexão:

No sistema de ensino, encontramos escolas públicas especiais para as crianças que revelem maiores capacidades de aprendizagem. Nessas escolas o ensino é quase todo em inglês e o nível de formação excelente, permitindo a formação de elites do melhor nível europeu, essenciais para a afirmação de um pequeno país na cena política, académica, económica e cultural à escala internacional.
Claro que qualquer outra escola pública é de muito bom nível e as taxas de escolarização da população estão entre as mais altas do mundo.

Permitam-me o paralelo com as famosas escolas de futebol do Sporting e do Boavista! Se conseguimos ser Vice-campeões europeus de futebol é porque investimos desde cedo nas nossas crianças. Porque não fomentar estas experiências, em escolas públicas, nos domínios da cultura e do saber?

A cultura ocupa um lugar fundamental na política nacional e municipal. Qualquer pequena cidade de 20.000 habitantes conta com teatros, com concertos de música, com galerias de exposições. Em Tartu, cidade universitária nacional, de dimensões inferiores a Coimbra, encontrei uma dinâmica cultural e intelectual em várias vertentes absolutamente invejável. Se, por um lado, vi bairros com estradas mal alcatroadas, por outro, vi o carinho que a população tem pelos seus liceus e universidades, o respeito que os políticos têm pelos agentes culturais e a exigência que a população dedica à conservação urbanística e ambiental, ao desenvolvimento de uma cidade bonita, inclusiva e progressista. Numa palavra, uma cidade onde se respira cidadania.

Coimbra tem feito alguns progressos, com a execução das grandes obras planeadas e orçamentadas pelo executivo de Manuel Machado, mas à parte alguns concertos novo-ricos do género “Rolling Stones” ou “Lou Reed” que eu tanto apreciei, apenas se sente vir da Praça 8 de Maio uma vaga de fundo de cariz tradicionalista e pseudo-religioso, sem verdadeira atenção ao que de mais moderno se deve fazer em termos de cidade.

Penso que Tartu poderia ser uma boa aliada para a nossa cidade. Proponho a geminação de Coimbra com Tartu!


André Pereira

Para mais informações, veja:
http://www.riik.ee/en/
http://www.tartu.ee/?lang_id=2