In. Autobiografia Política de Aníbal Cavaco Silva II
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Os Grandes Projectos
"Foi nos anos de 1992/1993 que o Governo lançou ou deu impulsos decisivos a seis grandes projectos: a organização da Expo 98, a construção da ponte Vasco da Gama, a introdução do comboio na Ponte 25 de Abril, a construção da Barragem do Alqueva, a introdução do gás natural e o novo aeroporto da Madeira. Eram projectos de tal dimensão que, obviamente, nunca poderiam avançar sem o apoio explicito da minha parte. Todos eles vieram a ser inaugurados depois de eu terminar as funções de primeiro-ministro, pelo Governo de António Guterres, propiciando vistosas ocasiões festivas e abundante cobertura mediática, com forte impacto positivo na opinião pública.
A decisão de avançar com aqueles grandes projectos fez parte do discurso de ideias positivas com que, nos anos difíceis da crise económica europeia de 1992/1993, eu procurava incutir confiança nos Portugueses e mobilizar energias e capacidades nacionais para a recuperação económica e contrariar os cenários negativistas e fatalistas que, por causa do jogo político, dominavam o discurso dos partidos da oposição. Era preciso contrapor ao culto masoquista das fraquezas nacionais e à pequenez da intriga política, em que a oposição se deleitava, no convencimento de que tal lhes permitiria mais facilmente chegar ao poder, uma fé inquebrantável nas capacidades dos Portugueses e uma convicção férrea na recuperação da economia nacional."
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"Deixem-nos trabalhar"
"O PS, liderado por António Guterres a partir de Fevereiro de 1992, viu na crise económica uma oportunidade de recuperar votos e criar condições de chegar ao poder. Adoptou um discurso catastrofista da situação do País, numa linha de "quanto pior melhor" apostando na propagação do derrotismo e na deterioração do clima de confiança. Desejava que a recuperação económica se atrasasse e a reconciliação dos eleitores com o PSD e o Governo não chegasse a tempo das próximas eleições.
Outro vector da estratégia do PS constituiu no apoio a toda e qualquer reivindicação que surgisse contra o Governo, não tendo em conta a sua razoabilidade, procurando estimular a contestação por parte dos grupos que as protagonizavam e captar os seus votos. "Deus nos livre de um dia sermos governados por forças políticas sem bom senso, que digam sim a tudo", disse eu nas Jornadas Parlamentares do PSD, no Funchal, em Março de 1992........
Na execução da sua estratégia, o PS contou com importantes apoios vindos do Presidente da República........
Mário Soares utilizava a sua voz para evidenciar as dificuldades económicas e sociais do País, esquecendo a herança que os meus governos tinham recebido e sem nunca referir a crise económica internacional que atingia a Europa , a mais grave desde a II Guerra Mundial"....
Eram muitos os dirigentes do PSD e vários membros do Governa que, bem ou mal, estavam convencidos de que a Procuradoria-Geral da República geria alguns processos de investigação de acordo com a oportunidade política e permitia fugas de informação para alguns jornais, por forma a criar dificuldades e lançar suspeições sobre o Governo.
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"Em Setembro de 1993, fiquei profundamente indignado com uma notícia publicada por uma revista, sobre uma pretensa compra minha de um andar por 160.000 contos.... Nem eu nem a minha mulher tinhamos feito qualquer contacto com vendedores para aquisição....A intenção era denegrir a minha imagem.....Eu sabia que não gozava de muita simpatia junto dos jornalistas.....