Nascida na Quinta do Perdigão, Vilarinho do Bairro, Anadia no dia 11 de maio de 1933, filha de António Dias Libório e de Ofélia Dias e Silva, foi muito influenciada na sua infância e juventude pela sua Avó, Professora Emília Dias e Silva, Professora primária na Camarneira.
Graças à sua Avó (e aos seus pais) foi estudar para o Colégio de Cantanhede Infante Sagres, onde completou o 1.º, 2.º, 3.º e 4.º ano do Liceu Nacional.
Aos 15 anos rumou a Coimbra, residindo no Colégio de São José e onde completou o Curso Nacional dos Liceus.
Em simultâneo, frequentou o Magistério Primário de Coimbra, concluindo o curso de Professora Primária no ano de 1951.
Aos 18 anos, Eva Neves Dias lecionava na Escola Primária de Marvão – Cantanhede, com 110 alunos, não mais abandonando a sua dedicação a este Concelho.
Casou com Eurico da Conceição Pereira, à data Estudante do 2.ª ano da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, no dia 11 de setembro de 1954. Para tanto teve que cumprir os requisitos exigidos a algumas profissões pelo Estado Novo. Neste tempo uma Professora primária não se poderia casar com um Estudante. O seu noivo obteve, então, uma licença de trabalhador numa Relojoaria de Cantanhede, do Senhor Serafim Cavadas, seu tio, para poder desposar a sua amada, Eva.
De 1954 a 1961 a Professora Eva Neves Dias escrevia, com regularidade, na imprensa local, artigos críticos do “estado das coisas”, o que lhe valeu perseguição política e prisão em conformidade com os cânones totalitários do Estado fascista. A Professora Eva Neves Dias chegou a estar presa nas masmorras da PIDE, estando de gravidez final da sua primeira filha!
Corria o ano de 1961, quando o Dr. Eurico Pereira termina a Licenciatura em Medicina e é mobilizado para a Guerra colonial que nesse ano ganhava intensidade nas ex-colónias portuguesas. O Dr. Eurico Pereira rumou a Tete, o conhecido “cemitério dos brancos”, onde cumpriu o seu dever ao serviço da Pátria durante 6 anos.
A sua esposa, Eva Neves Dias, confiou os seus três primeiros filhos aos cuidados dos avós e aventurou-se para terras do Índico, para acompanhar o seu marido. Aí foi convidada pelas Missões religiosas a ensinar, no nível de Liceu, as disciplinas humanistas do currículo. Teve oportunidade de desenvolver uma obra marcante no interior de Moçambique, de onde ainda hoje recebe notícias do seu desempenho pedagógico, cívico e cultural.
Terminados os 6 anos de missão, o casal regressa a Campanas, Cantanhede, fundando a Professora Eva Neves Dias um pequeno colégio de ensino particular, onde se formaram ilustres personalidades do nosso Concelho.
No final dos anos 60, o casal opta por fixar residência em Coimbra, não apenas para oferecer proximidade à Universidade aos seus filhos, mas também para Eva Neves Dias realizar o seu sonho de juventude: fazer a Licenciatura em Direito. O que almejou no tempo curricular, mantendo na plenitude o magistério em várias Escolas do Concelho de Coimbra e educando mais 3 filhos que se somariam aos primeiros três, sempre na companhia de vários sobrinhos e primos, que também ao seu cuidado conseguiram formar-se na Universidade de Coimbra.
Licenciada em Direito em 1976, e tendo feito as cadeiras de ciências pedagógicas na Faculdade de Letras da UC, reunia as habilitações necessárias para ser Professora do Magistério Primário, a que corresponde a atual Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra.
Ainda antes do 25 de abril de 1974, Eva Neves Dias colaborou com os movimentos cívicos de alfabetização e de promoção da cultura, mantendo sempre um espírito inconformista face à fome que marcava o país, que levava a que muitos dos filhos da terra ora fossem mobilizados para uma guerra injusta nas colónias, ora fossem arrastados para o desenvolvimento de outras nações europeias e americanas.
No desenvolvimento do processo do 25 de Abril, Eva Neves Dias encontra no Partido Socialista o espaço de cultura e a ideologia de transformação progressista, tendo sido uma das pioneiras deste Partido no Concelho e responsável pela sua implantação em todas as freguesias. Uma das primeiras militantes do Concelho, estatuto que sempre manteve ativo.
Nos anos 80, Eva Neves Dias empresta o seu saber profissional e dedicação cívica ao PS, liderando duas candidaturas à Presidência da Câmara Municipal de Cantanhede, vencidas pelo saudoso Dr. Albano Pais de Sousa, e assumindo ativamente, durante 8 anos, vários pelouros, destacando-se a sua ação na Cultura e Artes, sendo de especial nota a valorização do património material e imaterial do Concelho. Nessa década, Portugal redescobriu Jaime Cortesão (Ançã), António de Lima Fragoso (Pocariça) e Carlos de Oliveira (Febres) e ainda o cientista António Lima-de-Faria (Cantanhede), entre outros. A Pedra de Ançã, a cultura gandaresa, os sabores da Bairrada vieram a conhecer tempos de glória no turismo nacional. Eva Neves Dias esteve ainda na origem da feira de Cantanhede, que viria a ser a EXPOFACIC e foi decisiva para a compra dos terrenos, por parte do Município de Cantanhede, do que viria a ser, mais tarde o BIOCANT.
Ainda nesta década de aprofundamento da Democracia, Eva Neves Dias marcou presença firme nas lutas do Movimento da Condição Feminina e conseguia ter tempo para uma atuação assídua nos grupos de Teatro e Canto Coral.
Nos anos 90, opta por terminar a carreira no Ensino Secundário, no 10.º escalão, área Jurídico-Económicas, deixando uma impressiva marca em várias escolas, designadamente no Liceu Nacional Infanta Dona Maria, na Escola Avelar Brotero (em Coimbra) e na Escola Secundária de Oliveira do Bairro.
A sua reforma, que alcançou após quase 5 décadas de trabalho ininterrupto, dedicou-a a continuar a pedagogia e promoção cultural das gentes das terras da Gândara e da Bairrada. Para tanto, criou – com outros amigos e pessoas próximas – uma Associação, o Centro Cívico Polivalente “O Emigrante”, em homenagem a todos aqueles que partiram em busca de uma vida melhor, designadamente o seu Sogro que, após sobreviver à Primeira Grande Guerra (1914-1918), onde serviu a Pátria, emigra, nos anos 20 e 30, para os Estados Unidos da América (Nova Iorque), onde exerceu o ofício de Carpinteiro.
Essa Associação cria uma Escola com Creche, Jardim de Infância e ATL, na Camarneira, e viria a alcançar o estatuto de IPSS em 2004.
Na última década, sob a perseverante e carismática liderança da Dr.ª Eva Neves Dias, esta Associação consegue, após concurso nacional (PARES), ser habilitada a instalar uma Unidade de Cuidados Continuados e Integrados, em Labrengos, Covões, Cantanhede.
A Dr.ª Eva Neves Dias deixa-nos na Primavera em que consegue mais uma vitória: a duplicação desta unidade de UCCI de 21 para 42 camas.
E mais projetos tinha....
i) texto escrito pelo marido e filhos
ii) foto da festa do seu 87.º aniversário - (festa realizada em 7.6.2020)